18 de fev. de 2011

aquele da mobylette

estávamos em 1992, e em 1992 a melhor coisa que poderia acontecer prá um adolescente era:

ganhar uma mobylette!!!!

**so malandra**


todas as minhas amigas tinham mobylette, iam ao colégio de mobylette. passeavam de domingo de mobylette pelo bairro. todo mundo se sentia A REBELDE em cima de uma mobylette. ter uma mobylette era sinal que você era descolada e antenada (menina) e sinal também que você podia ficar com qualquer menina que você quisesse (menino). e é claro que eu queria fazer parte desse clubinho hell angels infanto juvenil.

pergunta valendo 100 ponto.

adivinha se eu tinha ou não uma mobylette?

ganhou quem falou que eu não tinha uma mobylette.

mas gente, vocês não estão entendendo... eu tinha que ter uma mobylette, sem mobylette eu não era ninguém, eu estava sendo excluída da sociedade sem mobylette. estava sem amigos, sem colegas, sem ninguém. condenada a viver na escória da sociedade prá sempre.*drama*

quando eu falei pro meu pai que eu queria uma mobylette, ele quase teve um colapso:

(eu) - pai, eu PRECISO DE UMA MOBYLETTE.
(pai) - como assim, mobylette?????????
(eu) - mobylette, pai
(pai) - isso custa caro demais, você vai sumir no mundo, você vai se matar com essa mobylette!!!!!! *drama*
(eu) - pai, é uma mobylette. não uma harley davidson, ok?
(nessa época eu já sabia argumentar)

mas meu pai ainda conseguiu jogar mais sujo do que eu:
(pai) - e se ao invés da mobylette você fosse prá disney??

foi uma proposta tentadora. mas com 14 anos eu era tão rebeldezinha que quando meu pai falou DISNEY, a primeira cena que me veio na cabeça foi eu com o chapéuzinho de orelhas da minnie e o agasalho de moletom da stella barros. revirei os olhos e a decisão estava tomada.

(eu) - pai, decidi. quero uma mobylette. não quero ir prá disney vestindo um boné de orelha com um bando de adolescentes.
(mas eu era o que, gente??? adulta???)

meu pai viu que não tinha mais argumentos. fomos a loja e ele me comprou a mobylette.

(eu) - ebaaaaaaaaaaaa, pai obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
(pai) - olha, isso é presente de natal, de aniversário, de dia das crianças, de páscoa, de bar-mitsva. nunca mais você vai ganhar nada. vai ter que passar de ano direto sempre e passar no vestibular na USP.
ou seja, o barato que sempre sai caro...
(eu) - tá bom pai *já subindo na mobylette*

na hora de subir na mobylette....

*drama master*

opa, essa mobylette tá meio alta né não moço???

tinha um detalhe que até então nem eu muito menos meu pai tínhamos pensado: o meu meio metro de altura não ia favorecer muito a minha pilotagem na mobylette. sim, minhas amigas tinham mobylette mas eu nunca tinha pilotado nenhuma.

(eu) - MOÇOOOO, TEM MOBYLETTE MENOR, TEM?
(vendedor) - não né!!! pffff *tipo, que burra*

(eu) - ahhh pai, vai mesmo assim, eu alcanço!!!! (mentira)
(pai) - como alcança??? falta UM METRO pro seu pé tocar no chão!!
(eu) - eu alcanço, pai. deixa comigo. (mentira)

saí da loja levando nas costas a mobylette. toda feliz né, afinal era o meu passaporte pro mundo, prá sociedade. mas no fundo, beeeem lá no fundo eu tinha certeza que essa história de eu não alcançar o pé no chão IA DAR BOSTA. fato.

meu pai nem tentava mais argumentar nada comigo. o papel dele ele fez e pronto, o resto era comigo. ué, eu não era a fodona?? ""SE VIRA NEGA"". o lema do meu pai era mais ou menos esse.
mas mesmo assim ele estava lá, coitadinho. na primeira vez que eu pilotei uma mobylette ele estava ali, do meu lado. graças a deus né, senão eu estava pregada no asfalto até hoje.

what??

sim, GRAÇAS A DEUS meu pai estava ali do lado na primeira vez que eu pilotei uma mobylette. senão eu estava pregada no asfalto até hoje.

como assim bial??

prá ser bem honesta a primeira vez que eu subi numa mobylette durou exatos 5 segundos. o tempo necessário de acelerar (muito, por sinal), subir na calçada, bater no portão da vizinha e me quebrar toda.

*shame*

gente, eu tenho como defesa que era A PRIMEIRA VEZ que eu pilotava uma mobylette. e outra. na hora que eu vi que eu estava me desequilibrando, CHÃO KD VC??? nessas horas que os 40 centímetros fazem TODA A DIFERENÇA na vida de um ser humano, né? simplesmente MEU PÉ NÃO ENCONTROU O CHÃO. ou seja, em cima da mobylette eu tava me sentindo mais ou menos assim:

**ai minha labirintite**

meu pai me socorreu, eu caída no chão sem conseguir respirar... a primeira coisa que eu disse com um sopro de voz foi:

- DISNEY...

e meu pai, mais do que depressa já contabilizando o prejuízo que ele estava tendo disse:

- disney nem fudendo. amanhã a gente volta e você vai aprender a andar nessa mobylette a qualquer custo.

e assim foi... no outro dia estava eu lá, toda quebrada, mas estava lá. fiquei ligeira na mobylette rapidinho. nunca mais caí. eu lembro que ela vinha com uma chave e lá saia eu, rodando a chave na mão, me sentindo A MOTOQUEIRA.
eu ia no mercadinho, na padaria, no colégio, tava ficando com os menininhos (mentira). ou seja, a vida estava perfeita até que...

(eu) - uééééééé, eu deixei a mobylette aqui no quintal ontem á noite...

pai, cadê minha mobylette???

CADÊ MINHA MOBYLETTE, PAI???

(eu) - PUTA MERDA, ROUBARAM MINHA MOBYLETTE!!!!
*DRAMA, MUITO DRAMA*

poizé meus amigos. 9 meses depois roubaram minha mobylette... nem senti o gostinho direito... sem disney, sem mobylette, sem amigos... nem poderia imaginar o que seria da minha vida depois disso... meu mundo tinha caído, tudo tinha acabado prá mim.
meu pai nem cogitou a ideia de me dar uma outra mobylette. muito menos me pagar a viagem prá disney. ""acabou-se o que era doce"". esse também era um dos lemas dele. mas de certa forma, ele não foi de todo ruim. ele vendo que eu estava triste, sem amigos, sem disney, sem nada, ele me deu um aparelho de som pro meu quarto. aí, a partir desse dia, eu descobri o rock. e nada mais foi como antes.

2 comentários:

Jhê disse...

Descobriu o rock! Que foda!
HASUDHUAISDHIAUDHUASI



#ADOREI e modéstia parte, isso é pra sempre!
*_*

;D

Roberto disse...

Teve essa época da mobilete mesmo... Antes dela, era o bicicross. Meu pai me deu uma bicicross, virei amigo dos meninos da rua rapidinho. Mas eu achava um saco ficar andando de bicicross sem um destino na vida. Mas enfim, eu tinha amigos. E as meninas gostavam. Mas não durou muito. As mobiletes dominaram o mundo e todas as menininhas rapidinho...

Ótimo post, dei várias gargalhadas!