aquele da boneca de pano

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senhores pais ou responsáveis:

amanhã seu (sua) filho (a) deverá trazer um brinquedo para a escola.

tia miriam.

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receber um bilhete da tia miriam pros eventos do colégio era sempre motivo de pânico, suador, caganeira e afins... mas dessa vez não foi assim. afinal, não era necessário ir vestido de palhaço ou animal, (quem lembra?) era só pegar um brinquedo e pronto!!!!!! simples e sem traumas. fui dormir tranquila e no outro dia eu peguei minha boneca MAIS LINDA DE TODAS prá levar pro colégio, afinal, era a única forma de eu compensar as outras histórias/micos/traumas passados. estava eu, TODA FELIZ levando minha boneca (repito) MAIS LINDA DE TODAS pro colégio quando minha mãe (tinha que ser kkkkk) me barra ma porta:

(mãe) - aonde você vai com essa boneca?

(eu) - pro colégio *mostra o bilhete*

(mãe) - aonde você vai com essa boneca cara?

(eu) - pro colégio *arregala os olhos*

(mãe) - aonde você vai com essa boneca cara que até hoje eu estou pagando?

(eu) - pro colégio *queixo dá uma leve tremidinha*

(mãe) - aonde você PENSA QUE VAI com essa boneca cara que até hoje eu estou pagando e que custou os olhos da cara?

(eu) - pro colégio *lágrima escorre pela face esquerda*

(mãe) - NUNCA!!! essa boneca custou caro demais prá você levar pro colégio. você vai sujar, vai perder, as meninas vão rasgar a roupa dela, vão ROUBAR essa sua boneca.

(eu) - mãe, você acha que eu sou retardada?

(mãe) - acho. (o que é ser tratado com sinceridade, não é mesmo minha gente?)

(eu) - mas mãe, tem que levar um brinquedo hoje ó, ó, ó *mostra o bilhete de novo*

(mãe) - tudo bem, vou pegar uma boneca que você pode levar.

(eu) - *FUDEU*

minha mãe sobe as escadas, entra no meu quarto e pega uma boneca. segundo ela, a ÚNICA BONECA QUE EU PODERIA LEVAR PRO COLÉGIO.

nem preciso dizer que foi *drama* né?

queridos leitores, um >>>>> parênteses... ( )

(eu vivi numa época onde BRINQUEDOS EDUCATIVOS, BRINQUEDOS ECOLÓGICOS E BONECAS DE PANO não eram cool como hoje. o bom mesmo era ter bonecas da estrela, barbies, etc, etc...)

voltando...

minha mãe desce as escadas com a única boneca que eu poderia levar pro colégio. a boneca era uma mistura de boneca ecologicamente correta (era feita de trapinhos), era de pano e era educativa. uma mistura bem explosiva prá época, não?

levei a boneca pro colégio, de cabeça baixa. escondi ela debaixo do blusão do meu uniforme prá ninguém ver. porque além de tudo, a boneca era feia, tadinha...

a boneca era o seguinte babado: era a chapeuzinho vermelho. atrás dessa chapeuzinho vermelho, tinha a vovó. e debaixo das duas, tinha o o o o, ADIVINHA QUEM???? o lobo mau, sim senhor!!!! (três em um. tentem, só tentem imaginar isso)

cheguei na sala, a boneca continuava escondida debaixo do meu blusão. *qualquer coisa eu falo que esqueci a boneca em casa*, pensava eu...

até que começou a aula...

*drama*

(tia miriam) - vamos começar a apresentação dos brinquedos!!!!

(crianças) - EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!

(eu) - *ai meu cú!!!*

(tia miriam) - quem quer ser o primeiro a mostrar o brinquedo???

(crianças) - EU, EU, EU, EU!!!!

(eu) - *se encolhe na carteira*

(tia miriam) - daniele!!! mostra a sua boneca!!

(daniele) - ahhhhhh eu trouxe minha boneca que patina, A LÚ PATINADORA!!!

(crianças) - ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ (arregalam os olhinhos)

(eu, pensando) - *schuiffff eu tenho a lú patinadora*

(tia miriam) - anderson!! mostra o seu playmobil!!

(anderson) - ahnnnn meu playmobil é o playmobil do circo!!!! tem mais de 250 peças!!!!

(crianças) - ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ (arregalam os olhinhos)

(eu, pensando) - *schuiffff eu tenho o playmobil do circo*

... duas horas depois...

(tia miriam) - bom, agora falta a boneca da fabiana né? fabiana, mostra a sua boneca prá gente!!!

(eu) - bom, eu trouxe essa boneca e... *tira a boneca de pano VAGAROSAMENTE do blusão do colégio e mostra prá professora*

(tia miriam) - óh, mas é uma, uma , uma, uma BONECA DE PANO!!!!! uma B O N E C A D E P A N O!!!

(crianças) - hahahahahahahahahahaha HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA hahahahahahahahahah HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH HAHAHAHAHAHAHAHA hahahahaha

... três horas depois...

(crianças) - hahahahahahahahahaha HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA hahahahahahaha HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

(eu) - buáááááááááááááááááááááááááááááááá

vocês leitores, analisando minha vida através deste blog, poderão me dizer que eu já devia estar acostumada com essa situação né, das crianças sempre rindo de mim, mas eu era sensível, desculpa.

mas dessa vez foi diferente... a professora se sensibilizou ali comigo, com a situação e falou bem assim:

(tia miriam) - NÃO PODE RIR DA BONECA DA FABIANA, É UMA BONECA ""ESPECIAL""

(crianças) - *fazem silêncio na sala*

(tia miriam) - olha só, vou contar a história prá vocês...

era uma vez, a chapeuzinho vermelho... (e mostra a chapeuzinho vermelho), que tinha uma vovó. (vira a boneca e mostra a vovó)

(crianças) - ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ

(tia miriam) - blá, blá, blá, apareceu o LOBO MAU (vira a boneca de novo e mostra o lobo mau)

(crianças) - ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ

...uma hora depois...

(tia miriam) - então essa é a história da chapeuzinho vermelho que eu contei com a boneca da fabiana, uma BONECA ESPECIAL!!

(crianças) - EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!! (batem palminhas)

(criança) - deixa eu ver essa boneca??

(outra criança) - eu quero uma dessa!!!

(uma outra criança) - posso levar prá casa??

(uma outra outra criança) - ela é LINDA!!!

(eu) - ?????

e ali minha alma foi lavada. com uma simples boneca de pano eu deixei de ser a "menina zebra" e a "menina do nariz de palhaço furado". agora eu era a fabiana, a menina dona da boneca "especial"... (bem melhor não é mesmo minha gente?)

cheguei em casa e minha mãe me pergunta:

(mãe) - como foi a aula de brinquedos?

(eu) - ahhhhhh todo mundo A-M-O-U minha boneca, foi a boneca mais linda da sala!!!

(mãe) - *faz cara de "não te disse???"*

dessa vez minha mãe teve razão, temos que concordar né?

passou o tempo. dei todas minhas bonecas, todos meus brinquedos. mas dessa tal boneca "especial" eu não consegui me desapegar. tenho ela até hoje. no próximo post, se vocês se comportarem e prometerem prá mim que não vão rir dela, posto uma foto da bonita. =)

aquele de quando eu fui expulsa de casa, parte II

(e dessa vez, não foi por causa da tia margarida)

como já foi dito em posts anteriores, roubaram minha mobylette. e meu pai, vendo minha tristeza comprou um aparelho de som pro meu quarto. e foi ali que descobri o rock, no meu quarto. e desde esse dia o mundo se abriu prá mim como eu nunca tinha visto e/ou sentido.

ó o naipe do meu aparelho de som:

**vai encarar?**

poizé, foi num 3 em 1 cce que conheci o rock. e se eu, na condição de filha única já era meia rebeldezinha, IMAGINA QUANDO EU CONHECI O ROCK??????

eu levava tão a sério essa questão do rock na minha vida que eu usava roupa preta rasgada, fazia mechas vermelhas no meu cabelo e andava com anel de caveira. o ápice do rock na minha vida foi quando me apelidaram de "metaleira". achei o máximo esse meu apelido. usava a mesma meia UMA SEMANA e sei lá, acho que nem rolava um banho todo dia. devia estar linda, linda... tão linda que eu era motivo de chacota no colégio, motivo de vergonha pros pais e familiares. mas enfim... o que importava é que eu estava sendo TRANSGRESSORA.

mas me faltava o principal prá eu ser uma metaleira de verdade.

um piercing

vale notar que estamos em 1993, e em 1993 apenas PIRATAS tinham piercing. piratas, o axl rose (no mamilo) e o mike patton do faith no more (na sombrancelha)

e eu encasquetei com um piercing, queria ter um piercing, e prá mim ter um piercing era sinal de que REALMENTE eu ia fazer parte do mundo do rock.

claro que não contei nada desse desejo pro meu pai e nem prá minha mãe. saí de casa num sábado, fui no estúdio e coloquei o tal piercing. coloquei no umbigo, uma argolinha. isso em 1993 era algo tão, mas tão revolucionário... não era como hoje, que todas as meninas dançarinas de axé tem né, minha gente?? era algo que significava que eu era FODONA e não dançarina de lambaeróbica em porto seguro.

não doeu, não sangrou... uma sensação de leveza, parecia que eu tinha perdido a virgindade naquele dia.

cheguei em casa, primeira burrada que eu fiz foi >>>>>>> mostrar o piercing prá minha mãe.

(eu) - mãe, coloquei um piercing. *levanta a blusa e mostra o umbigo furado*

(mãe) - isso é de verdade??

(eu) - claro!

(mãe) - peraê, deixa eu ver de perto essa merda que eu não to acreditando...

(eu) - *instintivamente dou um pulinho prá trás e abaixo a blusa*

(mãe) - nãooooooooooooooooooo acreditoooooooooooooooooooo que você fez issooooooooooooooooooooooooooooooooooooo.... sua maloqueiraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, porque você acha que eu me mato prá pagar colégio prá você estudar e você me faz isso???????????????? isso é coisa de gente maloqueira, viciada, coisa de ladrãooooo, assassino, serial killers!!!!

(mãe) - filha, você tá usando maconha?

(eu) - não mãe *revira os olhos*

(mãe) - e cocaína?

(eu) - não mãe *revira os olhos*

(mãe) - já sei, você tá usando heroína?

(eu) - não mãe *revira os olhos*

(mãe) - tá usando crack?

(eu) - não mãe *revira os olhos*

(mãe) - você está expulsa de casa, você vai morar na PRAÇA DA REPÚBLICA com aqueles hippies fedorentos. não é isso que você quer prá sua vida??? então pois bem, eu te expulso de casa prá você viver a vida que você quiser e blá blá blá....

(cinco horas depois)

(mãe) - .... blá, blá, blá uma filha que eu criei com tanto amor e carinho me aparece com isso em casa, não, não creio, você não é a minha filha.

(eu) - mãe, chega. vou dormir e amanhã a gente se fala.

fui dormir, ela também. acordei no meio da madrugada, fui prá cozinha beber água e um monte de louça suja na pia. encontrei ali um modo de eu me "redimir" da rebeldia. três horas da manhã, eu lavando louça e passando pano molhado na cozinha. eu podia ser metaleira. mas não suportava ver minha mãe triste por minha causa. de certa forma, meu "castigo" estava sendo pago. afinal, um monte de louça suja não é todo mundo que encara não...

e você acha que o simples fato de eu lavar toda a louça ia fazer minha mãe esquecer meu piercing??

NOT.

no outro dia ela acorda e eu já estou lavando o quintal. (mais uma maneira de eu me redimir)

(mãe) - ó, só vim te falar uma coisa: esse seu piercing vai inflamar e vai cair, isso não vai durar um mês na sua barriga.

e com essa frase, ela saiu de casa. voltou só de noite. nunca mais esse assunto foi tocado em casa e meu pai morreu sem saber que eu tive piercing. (graças a deus, senão o negócio tinha sido bem pior ainda kkkkk)

hoje olhando prá trás eu ainda acho que foi um exagero muito grande da parte da minha mãe ter me expulsado de casa por causa de um simples piercing. mas por outro lado, eu estava tão envolvida nesse mundo do rock e eu era tão novinha, tão sem cabeça e tão sem juízo, que se minha mãe não tivesse me dado um freio ali, naquela tarde, hoje minha aparência seria mais ou menos assim:

OI, RS

um mês depois meu piercing inflama e cai. (mãe norma, macumbeira e rogadeira de pragas - tratar aqui)

aquele quando eu fui expulsa de casa

eu sou filha única. e como toda filha única, era (sou) muito problemática, rebeldezinha, deprimidinha, solitariazinha... mas, como disse em posts anteriores, eu tinha primos. bastante primos. muitos primos. uma renca de primos. e foi com eles que vivi minha infância. claro, tinha primas que eu não gostava e não gosto até hoje. (quem aqui lembra do post da minha prima que é amiga da sandy e dentista?) e outros primos que eu amo tanto que nem precisaria de irmãos. (quem aqui lembra do post do palavrão?)

sim, tinha primos, vivi minha infância com eles mas mesmo assim eu CONTINUAVA SENDO A FILHA ÚNICA SOLITARIAZINHA, DEPRIMIDINHA E PROBLEMATIQUINHA. afinal, brincava com eles durante o fim de semana mas e depois quando eu voltava prá casa????? *tristeza*

a situação começou a ficar insustentável. não aguentava mais o fato de ficar sozinha durante a semana... prá uma criança de 5 anos, a vida estava sendo muito dura comigo. estava á beira de cometer o suicídio (o primeiro, rs) *drama* até que comecei a perturbar meus pais.

(eu) - pai, mãe quero morar na casa da tia margarida. (tia margarida, minha tia, mãe de vários primos)

(pai & mãe) - amanhã eu te levo lá, filha.

no outro dia...

(eu) - pai, mãe quero morar na casa da tia margarida.

(pai e mãe) - mas você acabou de voltar de lá, filha.

60 dias depois...

(eu) - pai, mãe quero morar na casa da tia margarida.

(pai & mãe) - PUTA QUE PARIU!!! CHEGA DESSA HISTÓRIA DE TIA MARGARIDA. VOCÊ QUER IR MORAR LÁ? ENTÃO VAI AGORA!!!

(eu) - vou mesmo, vou fazer minha mala.

(pai & mãe) - ????????????????????????????

subi as escadas, peguei minha boneca, minha chupeta e uma fralda. era tudo o que uma criança precisa não é mesmo minha gente?? minha mãe pega um pano de prato e um cabinho de vassoura. amarra minha boneca, chupeta e fralda nesse pano de prato, faz uma trouxinha e amarra essa trouxinha na ponta do cabinho de vassoura. sem mais palavras, fui posta prá fora de casa. (meus pais eram psicóticos, desculpa aí sociedade)

(pai & mãe) - tchau mesmo!!!!

*BLUM* (barulho da porta fechando na minha cara)

ou seja:

CANTEMOS: "freedom, freedom, freedom you've gotta give for what you take"

fui até o portão, olhei prum lado da rua, pro outro lado. era de noite. o único barulho era o "cri, cri, cri" do grilo que cantava. não pensei duas vezes:

*TOC, TOC, TOC* (três batidas tímidas na porta)

... nada de resposta...

novamente eu tentei:

*TOC, TOC, TOC* (outras três batidas tímidas na porta)

(eu) - oii, vocês aí de casa!! (rs)

... nada de resposta...

(eu) - oii, eu não vou embora agora não!!

... nada de resposta...

(eu) - tá escuro!!

... nada de resposta...

(eu) - tá frio!!

... nada de resposta...

e meus pais me observando pelo olho mágico. (eles eram sádicos, desculpa mais uma vez, sociedade)

depois de três dias (mentira) que meus pais resolveram abrir a porta. e eu lá, ainda com o cabinho de vassoura no ombro. entrei em casa e nunca, nunca, nunca mais na minha vida eu disse que queria ir morar com a tia margarida.

(dr. egberto e dra. norma. psicólogos infantis - consultas tratar aqui)